sexta-feira, novembro 27, 2009

Breve apontamento histórico segundo uma investigação que contou com o indefectível apoio de José Hermano Saraiva




Isto começa mais ou menos assim: Corria o ano louco de 1973 quando um grupo de amigos, que frequentava o antigo Liceu de Ovar, apesar de planear a conspiração que viria a resultar na bem sucedida Revolução de Abril no ano seguinte, ainda encontrava tempo para brincar ao carnaval.

A brincar a brincar faltava qualquer coisa: Com que nome iriam eles baptizar o grupo de carnaval em que se tornaram e estava a nascer? Sentados no átrio da actual Secundária Júlio Dinis, deram voltas ao catrapasso mas não saía nada de jeito.

Até que uma lâmpada se acendeu por cima da cabeleira - então farfalhuda - do nosso Ismael que estava a ver revistas de catraias com pouca roupa do carnaval do Brasil, tipo «Trikini e Bronco Nu».

«E que tal o nome de ZUZUCAS»? Todos se calaram em jeito de assentimento. Fez-se história e estava encontrado o nome deste grupo de carnaval.

Já agora, fiquem também a saber que que o samba mais famoso de todos os tempos, conhecido no mundo inteiro, é o popular «Pega no Ganzê», que deu à Escola de Samba Académicos do Salgueiro a vitória em 1971, cujo título original é «Festa Para um Rei Negro». Pois este verdadeiro ícone da Música Popular Brasileira, do samba e do carnaval carioca, foi composto por um tal de Zuzuca.

Pois foi! Um ano depois, esta música chegou a Portugal e em Ovar os foliões dançaram essa música até à exaustão. Mas - verdade seja dita – estes nossos amigos não se fartaram dela ao ponto de não irem um pouco mais além na busca das origens de uma música que parecia mágica quando era tocada nos bailes do Progresso (o mais frequentado).

Conta a lenda que era o delírio quando começava «Oh lé lé, Oh lá lá, pega no ganzé, pega no ganzá» e por aí fora. Feitas as investigações, descobriu-se que o homem por trás da música - que ainda se ouve por altura do carnaval - se chamava Zuzuca. O nome tinha piada até porque não prendia a nada.

As nossas homenagens a quem se lembrou de baptizar este grupo com esse nome. É que não é um nome qualquer, é um nome com história, pergaminhos, que respira e rima com carnaval.

Àqueles cuja mente se iluminou para brotar este nome, o nosso muito obrigado.

Hoje, e perante os novos desafios que se colocam à organização deste grupo, de uma coisa podem estar certos: o nome nunca se alterará.

«À noite, quando todos se recolhem depois de um dia exaustivo de trabalho, tem sempre alguém acordado, que canta baixinho o samba de Zuzuca: "Vem chegando a madrugada/ O sereno vem caindo / Cai, cai sereno devagar / Meu amor está dormindo».

in «Crônicas de Carnaval», publicado na revista Manchete, de 27 de Fevereiro de 1971




(Fotos de 1973 (em cima) e 1974)

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